Europa

Paris: Marché aux Puces de Saint-Ouen – Mercado de Pulgas de Saint-Ouen

Victor Kloeckner Pires para o Blog Mari pelo Mundo

Acho que ninguém duvida que a França ocupa papel de destaque quando se fala em arte: afinal, é aqui que surgem os estilos que influenciaram o mundo todo.

Da inspiração greco-romana ao  barroco, gótico, rococó, realeza, belle èpoque, art noveau, realismo, romantismo e o impressionismo, os estilos da arte cravaram suas marcas indeléveis nos mais variados objetos e construções que se sucederam ao longo da história.

Neste contexto, é de se esperar que Paris seja o local perfeito para encontrar-se objetos que são verdadeiras raridades e relíquias na medida em que, com o avanço da contemporaneidade, palácios e castelos foram cedendo espaço às novas exigências e, assim, desalojando, para sempre, estas preciosidades que se fundiam com a imponência das moradas de alguns privilegiados. Para nossa sorte, muitas delas estão, agora, ao nosso alcance.

Mercado de Pulgas de Saint-Ouen

É, talvez, em Paris, que podemos encontrar uma das maiores feiras fixas de antiguidades da Europa: o Mercado de Pulgas de Saint-Ouen. Na verdade, se trata de uma espécie de shopping que agrega centenas de pequenas (ou grandes) lojas em um mesmo local ou em uma quadra, mas não se confunde com a infinidade de barracas que estão ao seu entorno. Se o que nos interessa são as antiguidades, é nelas que nossos esforços se concentram.

O quadrilátero ocupado pelo mercado possui várias divisões e subdivisões, fazendo com que, ao todo, aproximadamente quinze mercados (Julles Vallès, Le Passage, Daupphine, Cambo, Malassis, Malik, etc) estejam reunidos harmonicamente, mesmo que suas propostas possam variar entre as venda de mobiliários, porcelanas, tapetes, cristais, objetos de decoração, instrumentos musicais, malas e baús, lustres, relógios e uma infinidade inimaginável de pequenos, médios e grandes objetos que são capazes de extasiar qualquer ser mortal.

É um mix tão grande de raridades que é quase impossível utilizar-se a premissa que eu uso em mercados de antiguidades (fixar a minha atenção em, no máximo, três tipos de objetos) e, por isso, destine ao menos um dia inteiro para perambular por entre os inúmeros corredores que entrecortam o mercado. Como eu disse lá no início, o mercado de Saint-Ouen é como se fosse o depósito dos palácios e castelos que um dia abrigaram tantas preciosidades.

Diferentemente dos outros mercados de antiguidades, dificilmente aqui se encontram quinquilharias e velharias (não que não existam, afinal existe gosto pra tudo). Os preços, obviamente, são (os famosos) preços de Paris: a raridade da peça tem o seu preço estratosfericamente dimensionado (e, por isso mesmo, não estranhe se a peça que você viu no ano passado ainda esteja a venda por lá).

As pessoas que por ali circulam são, na sua maioria, parisienses, embora seja possível encontrarem-se turistas (facilmente distinguíveis, uma vez que estes se limitam apenas a encantar os olhos com tantas maravilhas).

Eu sempre imagino que o tamanho das peças é o que distingue o público e os consumidores que transitam pelo mercado: mas é claro, só imagino, porque o tamanho de peças para quem é obcecado por antiguidades é apenas um detalhe.

Embora os preços sejam elevados, para quem é minimamente iniciado em antiguidades, isso não significa que sejam inacessíveis: como em qualquer outro mercado, em qualquer outro lugar no mundo, vale aqui também a regra da pechincha (talvez um pouco mais cansativa, dada a relativa intransigência dos franceses): dificilmente você não sairá de lá sem aquela peça que você não sabe o que seria da sua vida se ela não fosse sua.

O mercado também não é um lugar para se ir apenas uma vez: então se predisponha a voltar outra ou outras vezes durante sua estada em Paris.

É claro que cafés e restaurantes entremeiam o grande mercado e, o mais interessante, é que eles absorvem a atmosfera do local e é possível fundir-se o presente com o passado.

O emblemático Chez Louisette

Um café no meio desta infinidade de raridades é como retroagir no tempo em questão de segundos. E, se você se predispôs a passar o dia inteiro por lá, você vai se surpreender com o emblemático Chez Louisette: um pequeno restaurante típico francês com mesas são praticamente grudadas umas nas outras, o que o levará a almoçar com desconhecidos à mesa: longe de ser uma experiência desagradável, entretanto.

Em poucos minutos, você interagirá não só com seus vizinhos de mesa como também com os garçons (todos ‘meninos e meninas’ com idades que combinam com o ambiente e as músicas típicas dos anos 40) e cantoras. Se der sorte, pode ser que você encontre a Manuela, a simpaticíssima cantora que interpreta divinamente os hits de Edith Piaf. Mais sorte ainda você terá se conseguir conversar com ela. Os pratos, típicos de Paris, são ótimos e os preços justíssimos.

Se eu pudesse definir em uma única palavra o Chez Louisette, resumiria em contagiante, uma vez que é impossível não se contaminar com a alegria que por ali paira, mesmo que você seja daqueles que fazem o tipo comportado e comedido em suas reações e emoções. A propósito, como talvez possa ser um pouco difícil encontrá-lo para quem por lá está pela primeira vez, o restaurante fica no mercado Varnisson.

Por fim, tenho certeza que depois que você for a primeira vez à Saint-Ouen, obrigatoriamente você retornará. Aproveite. Afinal, são estes momentos que fazem a vida ser mais feliz e agradável.

Victor

Sempre em busca de belas obras de arte, belas fotos e das melhores coisas da vida.  “Viajante e viajando nas horas vagas.”

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Victor Kloeckner Pires

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