Feira de San Telmo: Praça Dorrego e os antiquários

Este post é para quem quer conhecer a Feira de San Telmo e não apenas passar por ela.

Direto de Buenos Aires, dicas do nosso colaborador Victor Kloeckner Pires

É certo que Buenos Aires está ali, a dois passos de nós, brasileiros. De mim, a apenas um, já que menos de 1000 km nos separam. E é dentro desta perspectiva que eu conheço esta cidade que mais parece um pedaço da Europa em plena América.

Memórias de San Telmo

Como estou aqui para falar sobre a Feira de San Telmo, fui buscar nas minhas mais remotas lembranças o que eu sabia acerca da Feira. Surpreendo-me por constatar que a minha primeira lembrança de Buenos Aires coincide com a Feira de San Temo, a praça Dorrego e os restaurantes no entorno.

Era uma época em que, assim como tudo que não nos interessa, antiguidades (e aí incluídas todas as suas variantes), para mim, eram invisíveis. Não sei como e, muito menos o porquê, mas em um determinado momento da minha vida, simplesmente elas apareceram diante dos meus olhos e se transformaram no que hoje elas representam: uma obsessão.

A partir deste momento, San Telmo passa a ser o meu local (mais do que) favorito em Buenos Aires e, aos longos dos anos, eu tenho trilhado todos os antiquários que estão dispostos ao longo da rua Defensa e a infinidade de bancas que lá estão aos domingos, na praça Dorrego.

Antiquários e antiquaristas

Ano após ano, dependendo da situação econômica argentina, os antiquários fechavam, reabriam, trocavam de donos. Na mesma velocidade com que abriam, também fechavam, contrastando, sobremaneira, com a perenidade daquilo que por ali se vende. Antiquaristas famosos, peças gregas e romanas, comuns por ali, mudaram para sempre de endereço (e, em alguns casos, mudaram de país). Entretanto, o local jamais perdeu a sua vocação e sempre soube se reinventar, ressurgir, atrair novos públicos.

O atual momento é, na verdade, um revival dos velhos tempos: são peças que retornam à venda, tanto em San Telmo, como nas imediações do Hotel Alvear, na Recoleta (onde antiquaristas, até então sumidos, voltam à ativa).  Para completar o revival, as cotações destas passam a ser feitas em dólares. Clientes? Certamente não faltam …

A instabilidade econômica não é nem de longe o cenário ideal para os antiquaristas (mas, certamente, é o melhor momento para aqueles que se dispõem a comprar). A própria história da Argentina e, mais precisamente de Buenos Aires, já é suficiente para imaginar-se que, por lá, objetos raríssimos de todas as partes do mundo, um dia, estiveram adornando as incríveis mansões e palácios portenhos e seus majestosos contornos de inspiração inglesa, francesa ou italiana.

Por efeito das sucessivas crises econômicas (mais uma vez, as crises!) esta infinidade de preciosidades (os objetos) foram levadas à venda e convertidas em dinheiro. É mais ou menos assim que, nós (os mortais) passamos a ter acesso a esta infinidade de relíquias (não, não estou falando de alta antiguidade, assim entendidas aquelas que são datadas em carbono).

Comprinhas

Os antiquários e as bancas de domingo continuam sendo excelentes opções de compra, se consideradas a qualidade e originalidade das peças que lá são vendidas. Se o objetivo da visita for apenas os antiquários, isto pode ser feito durante a semana. Já a feira acontece apenas aos domingos e, atualmente, revitalizada, estende-se por varias quadras. É possível que, por ali, se encontre (literalmente) de tudo. A diversidade de cafés e restaurantes dá ao local a infra-estrutura necessária àqueles que lá estão a passeio ou em compras. No meu caso, para as duas coisas, mas não necessariamente tenho que sair de lá com algo (não lembro que esta hipótese tenha, algum dia, sido verdadeira!).

Como visitar a feira de San Telmo

1. Programa para um dia inteiro

É um programa de dia todo (talvez até precisasse mais, mas daí deixaria de ser a feira de domingo). Aos interessados em antiguidades (e é básica, para estes, a distinção do que é efetivamente antiguidade daquilo que é quinquilharia ou velharia).

2. Reconhecimento da área

aconselho a iniciar pela manhã o reconhecimento do local, o que está à venda naquele domingo em especifico, fazendo uma rápida seleção mental dos objetos de interesse para posterior triagem.

3. Se encontrar o objeto do desejo, compre

Claro, como tudo o que por ali se vende é (praticamente) único, pode ser que você se depare com algo do tipo “eu preciso ter isso”, então, meu conselho é: compre, pois pode ser que, no minuto seguinte, o seu objeto de desejo tenha sido, de alguma maneira, abduzido (só quem já experimentou esta sensação é capaz de entender do que eu estou falando).

4. Voltar aos locais de interesse

Terminada esta fase, é hora de voltar aos locais onde você encontrou os seus objetos de interesse.

5. Partir para a negociação

Pechinchar é a regra: não tem graça comprar sem pechinchar! Nenhum preço que você ouvir é o final. O vendedor espera a negociação e, em se tratando de nós, brasileiros, é quase um pecado deixar de fazer aquilo que somos experts. Pode acreditar: o que você pretende pagar por aquele objeto, é o que você vai pagar (só somos traídos quando a angustia de ficar sem aquela peça toma conta de nós, caso em que somos capazes de dispensar todas as regras básicas de bom senso e deste tipo de mercado e acabamos por pagar o primeiro preço).

Para os visitantes – nível avançado

Quando você já é conhecido do antiquarista, tudo fica mais fácil: ele já sabe o suficiente sobre você e sabe se, ao final, você comprará (ou não), o que lhe garante (ou não) a simpatia que lhe será dispensada. A sensação de ser por eles reconhecido é gratificante (meu atual estágio).

Os obsessivos por antiguidades (excluídos os antiquaristas) focam em um nicho (quando muito, em dois) de objetos: sacros, óleos sobre telas, porcelanas, tapetes, esculturas, cristais, bronzes, mármores e mais uma infinidade de variantes. De certa forma, ao focar um determinado nicho (ou dois), o campo de visão se restringe a apenas ao que você, mentalmente, selecionou.

Um dia em San Telmo, um domingo, para os não iniciados em antiguidades (e até para os mais experientes) é extasiante. A vida, em todas as suas acepções, corre por ali, por dentre as inúmeras bancas que se postam sobre a praça, pelos lojas, pelos objetos colocados à venda (antigos ou novos), pelos cafés e pelos restaurantes. Talvez seja por isso que San Telmo seja magnética e atemporal.

Aproveite as outras atrações da Feira de San Telmo

A atividade na Feira de San Telmo é intensa e frenética. Além das preciosidades materiais, uma infinidade de outras atrações se distribuem ao longo das ruas. Músicos, estátuas vivas, bailarinos, malabaristas, atores, estarão por ali para fazer a sua performance e não vão perder a chance de chamar a sua atenção e encantá-lo. Alguns, ano após ano, marcam suas presenças por lá e já são verdadeiros ícones. Lá não existe idade, seja de objetos, seja das pessoas. Pare um pouco, assista-os!

Acredite: muito antes do que você imagina, você estará de volta!

Victor

Sempre em busca de belas obras de arte, belas fotos e das melhores coisas da vida.  “Viajante e viajando nas horas vagas.”

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Mari pelo Mundo

As colaboradoras e as Friends Connection de Mari Pelo Mundo compartilham o olhar e as experiências, contribuindo com o planejamento de viagens de pessoas que adoram se jogar nesse mundo.

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