Direto da Redação de Mari pelo Mundo, por Victor Kloeckner Pires
Um domingo perfeito em São Paulo é aquele em que o dia amanhece com o céu pintado de azul intenso! É o dia que a megalópole desacelera e passa a viver, nem que seja por um dia, em ritmo slow-motion.
São infinidades de opções para você aproveitar o domingo: afinal,você está em uma das maiores cidades do mundo. Com um sistema de linhas de metrô bastante simples e que é capaz de levá-lo em instantes de um lado a outro da cidade, eu sugeriria que, neste dia, você rumasse até a estação São Bento – no largo do mesmo nome – e começasse o seu dia com a missa das 10 horas no Mosteiro de São Bento que há mais de 400 anos empresta a sua aura de fé e religiosidade à grande cidade. A igreja, mesmo sendo mais recente, impressiona pela arquitetura, típica do estilo beuronense. Intimista, as sombras que predominam em seu interior são indelevelmente cortadas pelos raios de luz que penetram pelos inúmeros vitrais coloridos.
Vale, antes ou depois da missa, percorrer os longos corredores e reentrâncias da arquitetura, para apreciar os belos afrescos e imagens sacras expostos por toda a igreja. Dez horas em ponto, começa a missa: neste horário, o canto gregoriano e o som proveniente do impressionante órgão preenchem o silêncio habitual. Ao longo de um pouco mais de uma hora, os sons se repetirão ao ritmo da celebração eucarística e, ao fim, a experiência resulta em mix capaz de satisfazer nossas almas e nossos olhos, na medida em que nos impregna dos mistérios da fé.
Exatamente em diagonal a igreja do mosteiro, está o Café Girondino, que reconstrói o requinte do final do século XIX neste novo endereço (sim, o Café já esteve em outros endereços e há 10 anos ocupa este espaço). Minha sugestão é que você se acomode no piso térreo, onde funciona a cafeteria e deguste o saboroso café que ali se serve, ao mesmo tempo em que é possível entrar-se no clima nostálgico que o local nos remete. Particularmente, eu ficaria só no café (o expresso Bravo), mas o cardápio é bastante convidativo e é possível que você não resista aos cafés especiais ou a diversidade de pães e recheios. Utilize-se do tempo que você julgar necessário para mergulhar no tempo e experimentar um pouco da vida cotidiana do século passado.
Imagino que, agora, já estamos próximos das 13 horas. Então, é hora de, mais uma vez, usarmos o Metro rumo à estação Consolação, situada no início da Avenida Paulista. É a hora de almoçar. Bem próxima a saída do metrô, está a rua Bela Cintra e é ali que está situado o restaurante A Bela Sintra, típico português (daí, o porquê do “S” de Sintra). Embora não seja preciso reserva, se você não gosta de esperar, faça-a com antecedência. O cardápio, enxuto, permite que se combine o vinho ao prato escolhido. Um clássico revisitado é a lagosta ao Thermidor. Mais inesperado, é o sabor que a framboesa empresta ao pato, no Pato com molho de framboesa. Como não poderia deixar de ser, o cardápio contempla o bacalhau em diversas versões: o à Lagareiro é uma verdadeira delicia. Eu, particularmente, como forma de não interferir nos sabores (ou por não saber combinar vinhos) me restrinjo à água sem gás. Findo o almoço, é hora de prosseguir, retornando à Avenida Paulista.
Aos domingos, a Avenida Paulista cede lugar a uma multivariada e multicolorida quantidade de pessoas que substitui os executivos habitues do local ao longo da semana. Praticamente tudo que for colorido estará à venda ao longo das calçadas da Avenida que se estenderá até o Shopping Pátio Paulista e é este o trajeto que eu sugiro que você faça com uma parada – indispensável – na feira de antiguidades que se situa no vão do MASP e que só funciona aos domingos. Praticamente tudo o que você imagina em antiguidades tem ali, desde alta antiguidade até as “mais modernas”. Para um apreciador de antiguidades como eu, é o verdadeiro paraíso, até porque os comerciantes têm a preocupação de “renovar” constantemente o que se expõe à venda. Eu, particularmente, despendo um bom tempo por aqui e vejo (absolutamente) tudo e é difícil não sair com alguma “novidade” (a propósito, se for comprar algo e não quiser carregar, praticamente todos os vendedores lhe entregarão em sua casa ou hotel a sua compra). Os preços são razoáveis e sempre é possível a prática da pechincha (aliás, e na minha opinião, indispensável em se tratando deste tipo de comércio, mesmo que, ao final, você não consiga nenhum desconto e mesmo assim saia de lá com o objeto do desejo). Aqui, eu perderia a noção do tempo e ficaria até o fim da feira, as 17h. Mas é hora de seguir em frente (e a pé), até a Casa das Rosas.
Situada no numero 37 da Avenida, a Casa das Rosas é um imenso casarão do início do século XX, de uso particular, mas que depois foi desapropriada pelo governo paulista. Os jardins, imensos, permitem um passeio por entre canteiros com uma infinidade de rosas de todas as cores. Ao aproximar-se da primavera, o espetáculo tem inicio e é impossível resistir a perfeição dos contornos e cores dados pela natureza às rosas. Além disso, a casa abriga um espaço cultural com programação multivariada. Terminada a visita, retornamos pela Avenida, até o Conjunto Nacional, onde está situada uma das maiores livrarias do país.
Não é possível deixar de se impressionar logo que se entra na Livraria Cultura. Tudo ali é grande. A impressão que se tem, é que ali estão abrigados milhões de livros e a sensação de se perder entre eles é indescritível: vive-se e respira-se (literalmente) cultura. Impossível determinar-se o tempo de permanência nesta Meca : então, fique o tempo que julgar necessário.
A estas alturas, acredito que a noite já tenha chegado e que o frio, típico desta época, já se faça sentir. É possível que você esteja cansado e que seja hora de voltar para casa. Antes, entretanto, volte até a rua Haddock Lobo.
A padaria Bella Paulista está situada ali, no numero 354. Já de inicio, você verá uma infinidade de gostosuras por todos os lados. Resista a todas e escolha as inenarráveis e saborosas sopas, especialidades da casa e que combinam (mais do que) perfeitamente com este finalzinho de inverno. A propósito, a padaria funciona 24 horas.
É claro que não é preciso terminar o roteiro por aqui. Mil opções ainda são possíveis em uma noite que está só iniciando e a impressão que se tem é que a Avenida Paulista nunca dorme. Entretanto, meu roteiro, como eu disse lá no inicio, é para um típico domingo paulista, para ser vivido intensamente em todos os momentos e, então, o ânimo inicial já vão cedendo espaço ao cansaço. Eu, então, paro por aqui e volto à casa. No próximo domingo em São Paulo, eu vou fazer tudo isso de novo.
O mais engraçado é que, com o tempo, este roteiro vai ficando cada vez melhor e é possível (como é o meu caso) que se torne uma agradável e surpreendente rotina dominical.
Victor Kloeckner Pires