Lu Moreda conta sua experiência na India aqui no blog Mari pelo Mundo
Vivo há dois anos no lugar do momento: Lisboa. A mudança trouxe inicialmente uma euforia e êxtase. Porém, a medida que o primeiro inverno foi chegando, as incertezas quanto o futuro também apareceram. Quando decidimos por mexer em alguns dos pilares que nos sustentam – no meu caso, foi a mudança de país – precisamos estar alertas para alguns sintomas que mais cedo ou mais tarde podem aparecer.
Bem, o fato de estar diante a muitas incertezas gerou uma ansiedade extrema em mim, que quando uma das minhas grandes amigas disse que ia fazer um panchakarma na Índia, eu simplesmente me convidei para ir com ela. Eu precisava curar a minha estafa mental e o pânico.
Uma viagem em busca de equilíbrio: Panchakarma
O Panchakarma é um tratamento que nasceu no estado de Kerala, na Índia, e tem como objetivo a prevenção ou cura de doenças por meio da eliminação de toxinas e fortalecimento dos tecidos, a fim de restabelecer o equilíbrio físico e emocional.
Ambas eu e ela resolvemos investir as nossas férias de 2018 no projeto de cura e fazer as malas comunidade para uma comunidade hindu de tratamento ayurvédico
Minha amiga saiu do Rio de Janeiro e eu de Lisboa. A viagem durou cerca de 30 horas – saindo de Lisboa , com duas conexões: uma em Frankfurt e outra em Mumbai – até o destino final; o aeroporto internacional de Trivandrum (TRV), no estado de Kerala. Por incrível que pareça o custo da passagem dela foi 15% mais barato que a minha. Ela fez Rio- Londres -Delhi-Trivandrum.
Vamos às 5 razões para fazer suas malas para uma comunidade hindu de tratamento ayurvédico
1) Viver o ócio
Sabem porque um filho é posto de castigo ou no cantinho do pensamento após fazer bagunça ou malcriação?
Porque é no silêncio, isolamento e solidão que o pestinha consegue refletir sobre seus atos. Num momento súbito entre o choro e o sofrimento, ele acalma-se, escuta sua consciência, pede desculpas e, naturalmente, torna-se uma pessoa melhor.
Entretanto, a medida que ficamos mais velhos e não há mais babás ou pais para ajudar-nos neste processo de crescimento, nós simplesmente esquecemos deste ato de amor que é o “fazer nada”. Além disto, se estamos inseridos na cultura ocidental o “não ter tempo” geralmente é falado com orgulho. São tantas atividades envolvendo casa, família, trabalho e lazer que desaprendemos a contemplar o tempo sem qualquer distração.
Reaprender a fazer nada é: contemplar o pôr do sol sem fotografar, ver desenhos nas nuvens, perceber o caminho das formigas, fechar os olhos e sentir por alguns minutos a brisa no rosto, os pelos arrepiando pela sensação de bem estar e os pensamentos acalmando, até que no silêncio da mente, os sussurros da consciência manifestem-se.
Permitir-se viver o ócio é um ato de amor próprio.
2) A graça da interação presencial
Ao ir para um Ashran – termo em sânscrito para designar abrigo ou local de descanso – onde o propósito é a prevenção ou cura de alguma doença, faz parte do tratamento compartilhar com as pessoas que ali estão.
Então, as horas de internet são limitadas justamente para alimentar esta interação e troca de experiências, vivências e dores. Imagine o Caminho de Santiago de Compostela. Aquelas pessoas que por ali passam, deixarão sua contribuição para que você absorva da melhor maneira possível este seu encontro consigo mesmo. Simples assim.
3) Expandir a sua zona de conforto
No que eu decidi ir à Índia, eu sabia que alguns paradigmas do meu mundinho ocidental iriam ser quebrados. O conforto seria o primeiro deles. Dito e feito. Entretanto, eu não pensei que fosse resistir a higiene, segurança, povo, conhecimento, alimentação, clima, cultura, segurança, fé…TUDO. A ponto de questionar onde eu estava com a cabeça quando decidi fazer esta viagem.
Hoje fala-se muito em “sair da zona de conforto”. Entretanto, quando pensamos assim, imediatamente nossa mente preguiçosa responde: “Sair da zona de conforto? Para que?”. Afinal, gostamos do controle que o conforto nos oferece.
Porém, quando conseguimos trocar o verbo “sair” por “expandir”, uma atitude de agradecimento e privilégio surge e mantém-nos alinhados com o que realmente desejamos. Esta simples mudança de atitude fez-me ver tudo de forma positiva e passageira. Com isso, o tratamento passou a doer menos, a comida tornou-se mais doce, os cheiros do tratamento deixaram de embrulhar meu estômago e o cabelo sujo de manteiga ghee… Virou NADA.
Criar de maneira consciente oportunidades capazes de expandir a sua zona de conforto é colocar-se mais forte e flexível para enfrentar as adversidades que a vida apresentará.
4) Reencontrar a sua melhor versão
O Panchakarma envolve cinco ações de desintoxicação completa pela face, intestino, fígado, estômago e sangue. Esta desintoxicação ainda que possa parecer física também é mental, uma vez que a medicina milenar ayurveda trata corpo e mente como algo único.
Durante o tratamento, além dos procedimentos mencionados, há diariamente cerca de 3 horas de meditação e yoga. É através desta combinação que liberamos as toxinas mentais, as emoções que foram reprimidas ao longo do tempo e que nos trazem exaustão, desânimo, irritabilidade com quem nos cerca e culmina em doenças e lesões em nosso corpo.
Você não precisa ser expert ou praticante de yoga ou meditação. Há um guru no ashram. Ele será o seu mentor e grande entusiasta neste processo indicando os pontos a serem melhorados, como fazer a prática e até mesmo aconselhamentos psicológicos – se esta for sua formação também.
É mágico observar a evolução de si mesmo e dos amigos ali hospedados. Dia a dia, a sua flexibilidade aumenta, posturas que antes não fazia passa a fazer, a distração ao longo da meditação vai diminuindo e um belo dia você escuta a amiga do lado “Hoje eu meditei! Consegui!”.
Acredite, você também conseguirá. E quando isto acontecer, esta energia do oxigênio fluir de forma consciente por todos os seus órgãos, tecidos e ligamentos você sentirá não só um rejuvenescimento natural do corpo, como também o alívio por vivenciar a clareza de uma mente sã.
5) Turismo
Kerala é um estado a sudoeste da Índia e tem cerca de 600km de costa voltada para o mar. O clima é quente, úmido, abafado. Em Trivandrum, capital e cidade mais populosa de Kerala ainda é possível incluir nesta lista a poluição. Por isso que nos primeiros dias de tratamento é extremamente proibido sair da clínica ayurveda.
Contudo, a medida que o tempo passa e você tem alta do médico para estar exposta ao sol e vento é impossível não ficar encantanda com os templos e a beleza natural de Trivandrum. Já o trânsito, prepare-se! Aquilo realmente é uma loucura. Acredite nas imagens dos filmes. Não há sinais de trânsito, faixa de pedestre, ordem nas pistas – um atrás do outro. Se existe um espaço o motorista do carro, tuktuk, bicicleta, ônibus, caminhão, carro de passeio ou moto vai dar um jeito de entrar ali para avançar um pouco mais a seu destino.
Ah, e não pense que você vai morrer ao ver um ônibus vindo em sua direção na contra-mão, ele vai parar. Acredite nisto também! rs
Os templos religiosos e as cerimônias hindus emocionam qualquer um. Mas, para uma carioca como eu, admirar o pôr do sol sob um mar de coqueiros que desembocam no Mar árabe não tem preço. Esta imagem jamais sairá da minha memória.
Contatos
Sivasoorya Ayurveda and Yoga Herritage Ashran
Trivandrum, Kerala
Lu Moreda
Formada em Economia na UERJ e Cinema, na London Film Academy, Lu Moreda atualmente vive em Lisboa e é empreendedora. Sócia-proprietária da Personal Anfitriã, Moredinha produz roteiros personalizados e destination wedding em Portugal.
Instagram @lu_moreda
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